domingo, 23 de agosto de 2009

Karl Marx, filho de Levi Hirschel, neto de Levi Meir Marx, bisneto de Samuel ha-Levi

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ANCESTRAIS SLOVACOS DE KARL MARX


 
Por Mila Rechcigl
"Há um grande número de biografias que retratam a vida e a obra de Karl Heinrich  Marx, geralmente considerado o fundador do comunismo. A maioria dos biógrafos frisam que ele era descendente de uma longa linhagem de rabinos da região do Reno na Alemanha. Esta suposição é correta quando se considera a ancestralidade da sua avó paterna.



Casa da família Marx

em Trier






Marx e Jenny v. Westfallen


É surpreendente que o biógrafos têm geralmente ignorado as raízes paternas de seu pai, para não falar dos antepassados da mãe de Karl Marx.
Isto é ainda mais surpreendente, considerando o fato de que a localização da terra natal do avô paterno de Karl Marx é claramente visível na lápide dele no cemitério judáico de Trier, Alemanha. As pessoas que sabem o alfabeto hebráico podem ler claramente  Postelberg, o nome
germanizado de Postoloprty, uma cidade na República Tcheca, situada em Usti nad Labem, região cerca de 7 km de Louny.





Para quem não sabe disto, eu preparei um resumo abreviado dos antepassados de Karl Marx:



Ancestrais dos Pais


Pai de Karl Marx, Heinrich Marx (1782-1838) nasceu em Saarlouis, Saarland, na Alemanha. Seu nome original era Levi Hirschel que, após a conversão ao protestantismo, foi alterado para Heinrich. Ele era advogado e juiz em Saarlois e, mais tarde, em Trier (Trèves), na Alemanha.


 
Heinrich Marx era filho de Levi Meir, posteriormente adotando o sobrenome de Marx, que nasceu em Postoloprty, Bohemia, em 1748, Meir Marx mais tarde mudou-se para Trier, na Alemanha, onde morreu em 1804. Ele era casado Eva Lwow (1753-1823), filha de Moses ben Joshua Heschel Lwow, rabino em Trier. Os seus antepassados eram em sua maioria rabinos. Levi Marx tornou-se rabino-chefe de Trier após morte do seu sogro. 


O pai de  Meir Levi Marx era Samuel (Schmuel) ha-Levi (ca. 1735- 1777), nascido em Postoloprty, Bohemia; de sua mãe, Malka, desconhece-se o sobrenome . Pouco se sabe sobre o pai de Samuel Levi, com exceção que seu nome era Mordechai Marx e que ele morava em Postoloprty, Bohemia.





Ancestrais Maternais


A mãe de Karl Marx, Henrietta Pressburg nasceu no dia 20 de setembro de 1780 em Nijmegen, Países Baixos. Seus pais eram o rabino Isaak Heyman Pressburg e Nanette Cohen.


Isaak Heyman Pressburg era um nativo de Bratislava (Pressburg em alemão), onde nasceu em torno de 1747. Ele veio para Nijmegen, na Holanda, em 1832, onde se tornou um comerciante e onde morreu em 1832. Nanette (1754-1833), que era natural de Amsterdã Holanda, veio da proeminente família Barent-Cohen, muitos dos quais foram rabinos.

Isaak Pressburg  foi pai de Chaim Pressburg (Heyman ben Meir Michel), um nativo de Bratislava que viveu na Boêmia. Sua esposa era Hendrina Kutsch da Boêmia, com quem casou em 1785.


Pergunta-se quem era realmente o pai Chaim Pressburg's. Poderia ter sido o rabino Michel Lázaro Pressburg (d.1756), ou seu irmão Mayer Pressburg (d. 1752). O certo, contudo,  é que o avô Chaim foi Michel Simon, um nativo de Raab, Bohemia (m. 1719), que mais tarde mudou seu nome para Pressburg, depois de ter deixado Bratislava.


É interessante que, através de Michel Simon, Karl Marx era aparentado com Heinrich Heine (1797-1856), um brilhante poeta romântico e figura proeminente da literatura do século 19. Karl Marx era primo em terceiro grau de Henrietta Pressburg, a mãe de Heinrich Heine."






Karl Marx’s Czechoslovak Ancestry



By Mila Rechcigl

There has been a plethora of biographies depicting the life and works of the Karl Heinrich Marx, usually considered the founder of communism. Most of the biographers stress the point that he was a descendant of a long line of rabbis from the Rhine region of Germany. This supposition is certainly correct when one considers the ancestry of his father's mother. It is surprising that the


biographers have usually ignored his father's paternal roots, not to speak about Karl Marx's mother's ancestors. A comment is frequently made that little is known about them. Such statements are even more surprising, considering the fact that the location of Karl Marx's grandfather's native place is clearly visible on his gravestone in the Jewish Cemetery in Trier, Germany. The people who can read the Hebrew alphabet, can clearly read the name Postelberg, which stands for Postoloprty, a town in the Czech Republic, located in the Usti nad Labem Region, about 7 km from Louny.


For those who are unaware of this, I have prepared an abbreviated summary of Karl Marx's ancestors.


Parental Ancestry


Karl Marx's father, Heinrich Marx (1782-1838) was born in Saarlouis, Saarland in Germany. His original name was Hirschel Levi which, upon converting to Protestantism, was changed to
Heinrich. He was a lawyer and judge in Saarlois and later in Trier (Treves), Germany.




Compêndio
antissemítico por
Theodor Fritch

Heinrich Marx was the son of Meir Levi, later surnamed Marx, who was born in Postoloprty, Bohemia in 1748, who later moved to Trier, Germany, where he died in 1804. He was married Eva Lwow (1753-1823), a daughter of Moses ben Joshua Heschel Lwow, rabbi in Trier. The latter's ancestors were mostly rabbis. Marx succeeded his father-in-law, on the latter's death, as a chief rabbi of Trier.


Meir Levi Marx's parents were Samuel (Schmuel) ha-Levi (1735-bf. 1777), born in Postoloprty, Bohemia, and Malka of unknown surname. Little is known about Samuel Levi's father, except that his name was Mordechai Marx and that he lived in Postoloprty, Bohemia.

O tema da
Questão Judáica
era amplamente
debatido no século 19,
 como em Nova York, 1880

 Maternal Ancestry.


Karl Marx's mother, Henrietta Pressburg was born on September 20, 1780 in Nijmwegen, The Netherlands. Her parents were Rabbi Isaak Heyman Pressburg and Nanette Cohen.


Isaak Heyman Pressburg was a native of Bratislava (Pressburg in German), where he was born around 1747. He came to Nijmwegen, The Netherlands in 1832, where he became a merchant, and where he died in 1832. Nanette (1754-1833), who was a native of Amsterdam. The Netherlands, came from a prominent Barent-Cohen family, many of whom were rabbis.






in 1785.

Coleção de cartas do soldados
 alemães judeus mortos na 
Grande Guerra (1914-1918)








There is some question who was actually Chaim Pressburg’s father. It could have been Rabbi Michel Lazarus Pressburg (d.1756), or his brother Mayer Pressburg (d. 1752). What seems to be certain, however, that Chaim’s grandfather was Simon Michel, a native of Raab, Bohemia (d. 1719), who later changed his name to Pressburg, after he removed to Bratislava.


It is of interest that through Simon Michel, Karl Marx was related to Heinrich Heine (1797-1856), a brilliant romantic poet and towering figure of 19th century literature. Marx’s
mother Henrietta Pressburg was Heinrich Heine’s 3rd cousin.


See original at http://www.svu2000.org/genealogy/marx-cs.pdf


   

Tradução italiana
da Questão Judáica
do original de 1844.

SOLUÇÃO FINAL
DA "QUESTÃO JUDÁICA"
Martin Bormann escreveu esta circular secreta
 intitulada "Tratamento da Questão Judáica",
datada de 17 de julho de 1943,
reportando decisão de enviar os judeus
 aos campos de trabalhos forçados.
 Note-se que o timbre da circular 33/43  é a do
Partido do Trabalhador
Nacional-Socialista Alemão (NSDAP).

Judeus e Sobrenomes Israelitas: Uma Epopéia




Por que me chamo Moisés?





Os judeus sefaradim dão a seus filhos o nome dos avós, que geralmente estão vivos. Assim, numa árvore genealógica sefaradí vão encontrar o mesmo nome uma geração em média. Se alguém ler a história da Espanha não saberá às vezes quem morreu, e quem continua vivo. Será o avô, ou o neto? Outras vezes encontram o filho com o mesmo nome que o pai, mas é um costume cristão que se encontra entre os judeus sefaradim.

Por que levo o nome do meu bisavô, que morreu antes de eu nascer? Os judeus ashkenazim dão a seus filhos os nomes dos ascendentes falecidos. Isso tem a ver com a crença no restabelecimento da alma e com a honra e recordação do morto. Se pudesse seguir sua árvore genealógica, alguém que se chame Moisés encontraria tataravôs chamados Moisés a cada três gerações depois que deixaram a Espanha, por causa da inquisição.




Diferentemente dos aristocratas e das pessoas ricas, os judeus não tinham sobrenomes na Europa Oriental até os anos napoleônicos, nos princípios do século 19. A maior parte dos judeus dos países conquistados por Napoleão Rússia, Polônia, e Alemanha receberam a determinação de adotar sobrenomes para cobrança de impostos. Após a derrota de Napoleão, muitos judeus retiraram estes nomes e voltaram ao " filho de", surgindo então nomes como: Mendelsohn, Jacobson, Levinson, etc.

Durante a chamada Emancipação, os judeus mais uma vez receberam a ordem de adotar sobrenomes. Na Áustria e na Galícia, o imperador José fez os judeus tomar sobrenomes em 1788. As "listas de sobrenomes" do Império Austro-Húngaro, em geral, usavam palavras em alemão, muito parecidas com iídiche. A Polônia ordenou os sobrenomes em 1821 e a Rússia em 1844. É provável que algumas das famílias judias já tivessem recebido seus sobrenomes nos últimos 175 anos ou menos

Na França e nos países anglo-saxônicos os sobrenomes voltaram no século 16. Também os judeus sefaradim recuperaram seus sobrenomes após longos séculos. A Espanha antes de Fernando e Isabel foi uma época de ouro para os judeus. Eles foram expulsos por Isabel no mesmo ano em que Colombo partiu para a América. Os primeiros judeus americanos eram sefaradim.




Estela com as tábuas dos dez mandamentos (Irã)













Significado dos sobrenomes

Há dezenas de milhares de sobrenomes judeus utilizando a combinação das cores, dos elementos da natureza, dos ofícios, cidades e características físicas.

Um pequeno exercício é perguntar: Quantos sobrenomes judaicos podemos reconhecer com a raiz das seguintes palavras?

Roit, Roth (vermelho); Grun, Grin (verde); Wais, Weis, Weiss (branco), Schwartz, Swarty (escuro, negro); Gelb, Gel (amarelo).

Panoramas :


Berg (montanha); Tal, Thal (vale); Wasser (água); Feld (campo); Stein (pedra); Stern (estrela); Hamburguer (morador da vila).


Metais, pedras preciosas, mercadorias :


old (ouro), Silver (prata), Kupfer (cobre), Eisen (ferro), Diamant, Diamante (diamante), Rubin (rubi), Perl (pérola), Glass, (vidro), Wein (vinho).

Vegetação

Baum, Boim (árvore); Blat (folha); Blum (flor); Rose (rosa); Hol (Madeira).

Características físicas :


Shein, Shen (bonito); Hoch (alto); Lang (comprido); Gross, Grois (grande), Klein (pequeno), Kurtz (curto); Adam (homem); Zisman (pessoa doce), Dreifuss (tripé).


Ofícios:

Beker (padeiro); Schneider (alfaiate); Schreiber (escriturário) ; Singer (cantor). Holtzkocker (cortador de madeira), Geltschimidt (ourives), Kreigsman, Krigsman, Krieger, Kriger (guerreiro, soldado), Eisener (ferreiro), Fischer (peixeiro, pescador), Gleizer (vidreiro).


Utilizaram-se as palavras de forma simples, combinadas e com a agregação de sílabas como son, filho; man, homem; er: que designa lugar, agregando-se preferencialmente após o final do nome da cidade.Em muitos países adaptaram-se as terminações dos sobrenomes ao uso do idioma do país como o sufixo "ski", "sky" ou "ska" para o caso de mulher, "as", "iak", "shvili" , "wicz" ou "vich".


Então, com a mesma raiz, temos por exemplo: Gold, que deriva em Goldman, Goldrossen, Goldanski, Goldanska, Goldas, Goldiak, Goldwicz, etc. A terminação indica que idioma falava-se no país de onde é o sobrenome.

Sobrenomes espanhóis :

Entre os sobrenomes judaicos espanhóis é fácil reconhecer ofícios, designados em árabe, ou em hebraico, como: Amzalag (joalheiro); Saban (saboneiro); Nagar (carpinteiro) ; Haddad (ferreiro); Hakim (médico).

Profissões relacionadas com a sinagoga como:

Hazan (cantor); Melamed (maestro); Dayan (juiz). Cohen (rabino). Levy, Levi (auxiliar do templo).


Títulos honoríficos :


Navon (sábio); Moreno (nosso mestre) e Gabay (oficial). O sobrenome popular Peres, muitas vezes escrito Perez, com a terminação idiomática espanhola, não é, no entanto, sobrenome de origem espanhola, mas uma palavra hebraica que designa os capítulos nos quais a Torá (os cinco livros do Pentateuco), se divide para sua leitura semanal, de forma a completar em um ano a leitura da Torá.

Muitos sobrenomes espanhóis adquiriram pronuncia ashkenazi na Polônia, como exemplo, Castelanksi, Luski (que vem da cidade de Huesca, na Espanha). Ou tomaram como sobrenome Spanier (espanhol), Fremder (estranho) ou Auslander (estrangeiro).




Na Itália a Inquisição se instalou depois que na Espanha, de modo que houve também judeus italianos que emigraram para a Polônia. Aparece o sobrenome Italiener e Welsch ou Bloch, porque a Itália é também chamada de Wloche em alemão.


Nomes de cidade ou país de residência :

Exemplos:

Berlin, Berliner, Frankfurter, Danziger, Oppenheimer, Deutsch ou Deutscher (alemão), Pollack (polonês), Breslau, Mannheim, Cracóvia, Warshaw, (Varsóvia).





Desde os anos 380 A.D. assinala-se a presença de judeus na Alemanha. Vários documentos atestam essa presença - sejam sinagogas, selos postais e textos. Um curioso testemunho é a caneca de cerâmica para beber cerveja. Todos que adoram uma "lourinha gelada" podem se deliciar com os detalhes da sinagoga de Berlin gravados nela acessando  http://www.steinverein.com/photos/steins1/BerlinWallsynagogue.JPG .


Nomes comprados


Exemplos:



Gluck (sorte), Rosen (rosas), Rosenblatt (papel ou folha de rosas), Rosenberg (montanha de rosas), Rothman (homem vermelho), Koenig (rei), Koenigsberg (a montanha do rei), Spielman (homem que joga ou toca), Lieber (amante), Berg (montanha), Wasserman (morador da água), Kershenblatt (papel de igreja), Kramer (que tenta passar como não judeu).



Nomes designados (normalmente indesejáveis) :


Exemplos:

Plotz (morrer), Klutz (desajeitado) , Billig (barato).


Sobrenomes oriundos da Bíblia :

Uma boa quantidade de sobrenomes judeus deriva dos nomes bíblicos, ou de cidades européias da Ásia Menor. Isto muitas vezes fez os judeus levarem consigo as pegadas dos lugares em que se originaram. Tomemos como exemplo de "raiz de sobrenome" o nome de Abraham (Abrahão). Filho de Abraham se diz diferentemente em cada idioma. Abramson, Abraams, Abramchik em alemão, ou holandês. Abramov ou Abramoff em russo.

Abramovici, Abramescu em rumeno. Abramski, Abramovski nas línguas eslavas. Abramino em espanhol, Abramelo em italiano. Abramian en armênio, Abrami, Ben Abram em hebraico. Bar Abram em aramaico e Abramzadek ou Abrampur em persa. Abramshvili em georgiano, Barhum ou Barhuni em árabe.

Os judeus de países árabes também usaram o prefixo ibn :


Os cristãos também passaram a usar seus sobrenomes com agregados que significam "filho de". Os espanhóis usam o sufixo "ez", os suecos o sufixo "sen" e os escoceses põem "Mac" no início do sobrenome. Os sobrenomes judaicos não tomaram a terminação sueca nem o prefixo escocês.

Pode-se constatar essas variações olhando em catálogos telefônicos quantos sobrenomes há derivados de Abraham , Isaac e Jacob. Há também sobrenomes judeus que seguem o nome de mulheres, mas é menos comum.

As vezes isto acontecia porque as mulheres eram viúvas, ou por alguma razão eram figuras dominantes na família. Goldin vem de Golda. Hanin de Hana. Perl, ou Perles de Rivka. Um fato curioso apresenta o sobrenome Ginich. A filha do Gaon de Vilna se chamava Gine, e se casou com um rabino vindo da Espanha. Seus filhos e netos ficaram conhecidos como os descendentes de Gine e tomaram o sobrenome Ginich.


Também há sobrenomes derivados de iniciais hebraicas, como Katz ou Kac, que em polonês se pronuncia Katz. São duas letras em hebraico, K e Z iniciais das palavras Kohen Zedek, que significa "sacerdote justo".


Sobrenomes adquiridos em viagens :


Nos sobrenomes que derivam de cidades a origem é clara em Romano, Toledano, Minski, Kracoviac, Warshawiak (de Varsóvia).

Outras vezes o sobrenome mostra o caminho que os judeus tomaram na diáspora. Por exemplo, encontramos na Polônia sobrenomes como Pedro, que é um nome ibérico. O que indica? Foram judeus que escaparam da Inquisição espanhola no século XV.

Em sua origem, possivelmente eram sefaradim, mas se mesclaram e adaptaram ao meio azkenazi. Muitas avós polonesas se chamam Sprintze. De onde vem esse nome? O que significa? Lembrem-se que em hebraico não se escrevem as vogais, assim que é um nome que se escreve em letras hebraicas Sprinz, que em polonês se lê Sprintze , mas como leríamos esse nome se colocássemos as vogais? Em español, seria Esperanza, e em português Esperança, que escrito em hebraico e lido em polonês resulta Sprintze.

Mudança de sobrenomes :

Existem muitas histórias nas mudanças dos sobrenomes. Durante as conversões forçadas na Espanha e em Portugal, muitos judeus se converteram adotando novos sobrenomes, que as paróquias escolhiam para os "cristãos novos" como Salvador ou Santa Cruz. Outros receberam o sobrenome de seus padrinhos cristãos.

Mais tarde, ao fugir para a Holanda, América ou ao Império turco, voltaram à religião judaica, sem perder seu novo sobrenome. Assim apareceram sobrenomes como Diaz ou Dias, Errera ou Herrera, Rocas ou Rocha, Marias ou Maria, Fernandez ou Fernandes, Silva, Gallero ou Galheiro, Mendes, Lopez ou Lopes, Fonseca, Ramalho, Pereira e toda uma série de denominações de árvores frutíferas (Macieira, Laranjeira, Amoreira, Oliveira e Pinheiro). Ou ainda de animais como Carneiro, Bezerra, Lobo, Leão, Gato, Coelho, Pinto e Pombo. Outra mudança de sobrenomes foi causada pelas guerras. As pessoas pederam, ou quiseram perder seus documentos, e se "conseguia" um passaporte com sobrenome que não denunciava sua origem, para cruzar a salvo uma fronteira, ou escapar do serviço militar.

Nos fins do século XIX o Czar da Rússia, exigia 25 anos de serviço militar obrigatório, especialmente dos judeus.

Quantos imigrantes fugiram da Rússia e da Ucrânia com passaportes mudados para evitar uma vida dedicada ao exército do Czar?

Outra questão é que somos filhos de imigrantes, e muitos sobrenomes se desfiguraram com a mudança de país e de idioma.

As vezes eram os funcionários da Alfândega ou da Imigração, outras o próprio imigrante que não sabia espanhol, ou escrevia mal. Por isso, muitos integrantes da mesma família têm sobrenomes similares em som, mas escritos com grafia diferente.

Além disso, na Polônia a mulher tinha um sobrenome diferente do masculino, terminava em "ska", no lugar de "ski", pois indicava o gênero. Esses, são só alguns dos milhares de sobrenomes judeus existentes.

E assim a história continua...


quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Football (soccer), a business supporting one billion people
















This interview has been translated to English by Google.


Interview: Ex-president of Fifa said that the football industry maintains 1 billion globally pessoas.

Stadium building for the 2014 Cup will stay in Brazil, says Havelange

Chico Santos, Rio






19/08/2009






Leo Pinheiro / Valor Economico

João Havelange: "If we could do in all sectors of activity which makes the football, the world would not be the same"
The voice is firm and clear, and the steps and answers. "Football takes the world and gives to eat to almost 1 billion people. There is no industry, no one to do it." Jean-Marie Faustin Goedefroid of Havelange, 93 years completed on May 8, ex-swimmer and Rio of Belgian descent, built his entire career in football and was a great protagonist of the story of the most popular sport in the world. Joao Havelange, as was "renamed", finally buried the amateur romanticism of the first half of last century and entered the sport in the world of business.

Still found time to stay for 58 years as director of one company, Traffic Comet, accumulated over the presidency of the Brazilian Confederation of Sports (CBD), today Brazilian Football Confederation (CBF), which had from 1958 to 1974, year where he assumed the presidency of the entity that controls the football world, the Fédération Internationale de Football Association (FIFA), staying in office until 1998. Today is president of honor of the entity.

"Managing is not fail in resources," says in an interview with Valor elegant office in the center of Rio, which manages its assets. He counts as possible to participate in the Brazilian Cup in 1958, the first won by the country, as increased revenue from crown of the world, criticized the leaders of Brazilian clubs and repels changes in the rules of football to avoid errors of arbitration. "The power of football is in error," maintains. Below, excerpts from the interview:

Value: Tell what your thinking as an entrepreneur.

João Havelange: My thinking is: it does not fail in managing resources. If you have the resources, their task is easier and you come to a happy ending. If you do not have the resources, hardly reach their goals. When I got to the CBD in 1958, it had virtually nothing. The football and had 24 amateur sports. Today, all those sports and left CBD turned into Brazilian Football Confederation, the CBF. We had before us a World Cup (Sweden) and I was not a feature, not a credit in the banks by the position I had as an administrator of a large company (Traffic Comet). With that, I did at that time called for parrots (promissory) and signed as responsible. Not everyone who does this. When we went to the World Cup ...

Amount: But you have not been to Sweden, was it?

Havelange: It was a simple reason: I was, who would sign the kites to send the money? So was the vice president, who was the Paulo Machado de Carvalho. I needed some more resources and could, before the time came to Sweden to start the Cup, two games in Italy, one in Milan against Inter (Internazionale), and another in Florence against Fiorentina. And with this feature is that the team got there and Paul undoubtedly was exceptional, as command, and everything.

Value: The JK (Juscelino Kubitschek president) did not colaboraçãozinha?

Havelange: This is where I want to get there: I imagined asking him to make a medal, a kind of currency with many karats of gold in the mint. On the one hand, place the emblem of the Republic, and the other, the emblem of the CBD. And the president Juscelino gave order to the mint and we made 10 thousand medals or coins. As the seal of the mint guarantee the amount of gold he had, I went to several banks and delivering packages of a thousand medals. How was gold, they credited me immediately. Thus, the managed resources.

Value: The gold had liquidity ...

Havelange: Exactly. The banks sent to the agencies and there was always someone who wanted to buy. And it was so I made the Cup in 1958. The time has passed, we had another World Cup in 1962 (Chile), and did the same thing. In 1966 (England) was different, finally, we arrive at 1970 (Mexico). Then the features were different.

Value: Brazil already had two world title in baggage.

Havelange: The business card was presented other ... After the CBD was elected to Fifa. When I got there, I would be lying if he said I found $ 20 in cash. I took a program that, in the insistence, was not accepted by the Executive Committee. And to implement this project, as Fifa had nothing, I had the fortune to have two meetings, with each other with Adidas and Coca-Cola International. And the two have teamed to me in this program. And there began to reach the resources. And I can immediately change the way you manage to Fifa. I want you look good for this: the first World Cup that I chaired, was to be shown where it was in 1978 in Argentina. Had 16 teams. They competed in 32 games 25 days. And the final revenue, gross was U.S. $ 78 million. Four years later in Spain, the revenue rose to $ 84 million. Then I got the permission of the Executive Committee to modify the Cup for 1986, which would be in Mexico from 16 to 24 times. At 24, we would have 54 games and, instead of 25 days, jogaríamos in 30 days. The result: pass for $ 84 million to $ 500 million in revenue. In continuation, a new study and I spent 24 to 32 selections. The 1990 Cup in Italy was still disputed by 24 selections, but in the United States were 32, playing 62 matches in 30 days. And, wonder, went from $ 80 million (1978), or $ 500 million (1986), for $ 2.2 billion. Following that was France in 1998, went to $ 2.8 billion. And now a World Cup pays $ 4 billion. We have sponsors from the field when you have the World Cup, and they are also present in other FIFA competitions. There are 15 sponsors. And the payment of which are in the field is U.S. $ 75 million each. Is the television, giving more to U.S. $ 2.2 billion. And we have 1.4 million to 1.5 million attendees, which correspond to almost $ 1 billion in revenue. So, a World Cup is now a revenue of $ 4.2 billion.

Value: It is a powerful business ...

Havelange: Exactly. So you allow me the lack of modesty, but it was a work, a study we did when we arrived. Nobody had thought about it and nobody had done. The people, the company seeks to give the best, but also have the best, and is the best recipe. I applied this same principle in that Fifa has now become one of the great powers of the world.

Value: Your father had business in the area of arms, but you were working in a company bus ...

Havelange: I graduated in law with 20 years in 1930, and lost my father in 1934. After internships in law firms, I was learning to work. I enter the Belgo-Mineira Steel Company, which still exists today (the unit of long steel arcelormittal). There I learned to get customers at the counter, learned to catalog, write to the machine, learning to make letters, learned to visit clients and, after four years, I quit because I wanted a different situation. Over time, I was invited by the owners of Comet to go to the company. That was in 1940 and I was working as a lawyer. I was two years in that position. Then I was the director and shall be two years. And now I will say one thing that will surprise you because it no longer exists: I was 58 years as president, 62 years in the same company.

Value: So you went from there in 2002?

Havelange: Exactly. It was there I learned what it was administered. I am driver, I'm not mechanical, I did not change tires, I did not move in chassis ... But there are resources to have a good administration, we have the best looking.

Value: You innovated, hired psychologists to take care of drivers, concerned about security ...

Havelange: The drivers had to make an examination as the aviator.

Value: What was the brand of its management?

Havelange: For you have an idea, only one detail: the bus has two rear tires on the wheel. When the tire from inside furava, the driver had to take the wheel out, get the flat tire, get the new tire on the bus, place, put the out and save the bored. In the Comet was all done in 17 minutes. I call this administration. It is a detail that seems to be important, but it does. If the guy is still two hours to do that task is not good. Bother the passenger, he complains. It was with this spirit, this thought and this desire that I went to Fifa if elected president. And the football today is one of the world and I'll tell you why: 250 million. If you multiply that by four in a family, give 1 billion, is not it? So, football takes on the world and gives to eat to almost 1 billion people. No industry, no one who does. Today, I see that football is a power, is desired, it is applauded and criticized, of course, like everything we do in life. But it is an example to be followed.

Value: As you managed to combine the presidency of the CBD with Comet and then, with Fifa?

Havelange: First, I had the respect of the world. Was to do. If I had to come, I came (to Brazil) and was always well advised to continue the work, a board of high quality and quality.

Value: Football has become a major business in the world, but in Brazil the poor clubs. Why?

Havelange: You said well, the clubs poor Brazilians, Europeans, no. Because we have bad government. The subject today is manager, is director and is still fan. Administrator is not, and this is the big problem. And then, the federal law should change. You see now what happened in the world? A tremendous hit! How many highly qualified people were arrested because they had responsibilities and failed? The day this happens in football - the guy is president, but responds with their property, may be a chain-and go, you will see that everything will change.

Value: Call Pelé Law (No. 9615/98, which ended with the pass, the link to the club's sports player) contributed to the problems of clubs in Brazil?

Havelange: For me and helped a lot. When he made the law I called and said "if I were you do not have because you will bring great harm to everyone." Previously, when the player's pass was sold, the club gave him 15% of the sale. And who did the contract with the new club was the player was not any individual. Today, everything is in the hands of people. Recently I read that a player would not know where to. There were three businessmen, each had a third of his passes. Before there was talk in slavery. This is a slave, you forgive me.

Value: It's owned by people ...

Havelange: Exactly. Today the director says the pass is there, is not the Fluminense (for example). The pass must be the player's club, is owned by the club, can not be yours and not mine. The club is giving the sign, gave the shirt, give the color. If not overcome this, we will continue down.

Value: The implementation of the Africa Cup (2010)?

Havelange: Before leaving the Fifa realize that nothing ever happened in history in Africa, no events, nothing. So, we the president (Joseph) Blatter (Fifa substitute for Havelange in) and ready to leave in 2010 was the World Cup to Africa. You see what this is! They are doing stadiums, are organizing, they are disciplined ... The Confederations Cup was made of and everything went perfect. If we could do in all sectors of human activity that makes the football, the world would not be the same.

Value: What is the economic and social importance for the implementation of Brazil's Cup in 2014?

Havelange: Since I'm talking to an economic newspaper, I will make a fact: I do not know if you know that France received 60 million per year from tourists. It is known that the tourist class A and B, which spends $ 1,000 per trip. So, tourism had come in France $ 60 billion. We had then the World Cup in France in 1998. Beyond the average jumped to 70 million tourists, or the Cup for France gave U.S. $ 10 billion per year. So you have to be analyzed. "But I will spend money in the stadium! He is not going to be put down. "I spend at the airport! He is also, for the good of all.

Value: Many criticize both the CBF and in FIFA, the fact that there is no limit to the reeleições. How do you see that?

Havelange: We will not mix politics with other things. Everyone wants to sit in football since leaving the name in the newspaper. But you know that work. The Blatter arrives to the office every day at 8 am and leaves at 18. I, when I was there, too. During the 24 years that I was always by choice. At first, I had a dispute with another candidate. In other (elections), was by acclamation. Because like!

Value: How do you see the complaints that the rules of football evolves very slowly, not attached to technology?

Havelange: You will surprise my answer. The power of football is the error. I will say why. World Cup 1986 in Mexico. There were 24 selections, 54 games. Only speaks of a game, Argentina and England, because Maradona was a goal with his hand. Cup of 1966 in England: until now discuss the third goal for England against the Germans in the final (there are serious doubts about whether the ball actually came). The volleyball, when I played, had the highest 1m80, 2m10 today. So, the rule had to change. In football I want a rule change was to increase the goal to the side and upwards. The Aimorés (Moreira, former goalkeeper and ex-coach) should be 1.75 m. Today, as has Dida? Two meters and less. So I had thought to increase the goal up in a ball and half ball for each side. We check. You see that thinking is one thing and run is another. If that happened you would have to frustrate most areas of Europe because there was not as back. Most stages had no clue around then was not to move.

Value: The idea of putting a chip in the ball to know where it is perhaps?

Havelange: I am against. I think the referee is there for that. Football has changed, but its strength is still the error. You go for coffee and discuss, or nearly so and why attack it. The day that you get this, it is done go to the Teatro Municipal de tails, clap and go home.

Value: What was the greatest joy that football has given to you?

Havelange: Naturally, the Cup of 1958. Brazil has never won. I came to the CBD ... then said that I was a swimmer and did not understand anything about football, is a right of each, but with the method that I took, we were champions. In 1966 (Brazil lost tricampeonato) criticized me a lot, but I'll remind you: President of Fifa, an Englishman (Sir Stanley Rous) said that football was born in England and that England was that he knew football. But was never champion. World Cup in England: The only team that came out of London was not the English selection. When Brazil was playing the first three games, against Bulgaria, against Hungary and against Portugal, the three referees and six flags, seven were British and two German. Eventually the team with our (violence). And who was champion? England, with Germany as vice. I was criticized, I was mistreated, almost attacked me, but what nobody wants is to analyze, because football is a passion and you have to respect that passion, even if it is against you. But that passion is not because it is against what you have to change the rule.

Value: How do you see the Brazilian economy and the government of President Lula?

Havelange: It is not because the president is in office, but we must recognize that in a moment of world crisis of the countries that Australia was the least experienced. Within the problem there was a balance. We hardly feel the waves of 50 meters. We are only in marolas. And I think this is an example to follow. Not that he needs to perpetuate itself, but, undoubtedly, is an example to be followed.

Brazilian banks have to reposition themselves







Brazilian private-owned banks like Itau-Unibanco, Bradesco, HSBC, Real seem to be under incresead pressure from State-owned entities like Banco do Brasil, Caixa Economica e Banco do Nordeste. This analysis by Raquel Balarin has been translated to English by Google.



Under pressure, banks try new position

Raquel Balarin


Valor Economico





20/08/2009



Meetings with analysts that the bank promotes Itaú are taken as examples. Throughout the day, senior executives of the bank give explanations on the balance sheet, answer questions from analysts about the future of the economy, detailing supplies and talk to the press. Yesterday, however, the meeting in a buffet in São Paulo, an indigestible matter dominated the sessions of journalists' questions and comments to the small mouth. What Setubal brothers (President Roberto and vice president of investor relations, Alfredo) had to say about the complaints made public last week by Minister of Finance, Guido Mantega, private banks and Roberto? The Setubal responded with silence and decided "not to play more firewood in hell", as Alfredo.

Last week, in announcing the return of the Bank of Brazil in the ranking of the leading financial institutions, Mantega was critical acidic. He said that private banks would "eat dust" of public banks is not reduce the "spread" (difference between the cost of borrowing from the bank and the rate of loans) and increased the credit. He added that "the president of Itaú had been wrong and lost the opportunity to not be mistaken." The "misunderstanding" was a statement by Roberto Setubal the day before, that the "spread" charged by public banks were not sustainable.

Few people thought, but a month ago, the launch of the Valley-Culture, the Itaú had suffered another direct criticism of the government, this time coming from anyone unless the president, Luiz Inácio Lula da Silva. In the event, he shot, in reference to the use of the Rouanet Law: "People see the Itaú (Cultural) and not know what is not theirs. It is not a penny of Itaú. Constraint. In the audience was one of the heirs of the bank, Milú Vilela. (Detail: the Itaú Cultural informed at the time that about half of the resources are invested each year).

That there is something happening, we must not be very smart to understand. Lula has shown irritation with the private banks because of the "spreads" have remained high despite the drop in basic rate of interest. The "spread" is a key in which he hit from his first term. In meetings with representatives of banks, more than once began the conversation by asking how a guy bought a refrigerator and had paid to run two. But back then, the Selic was higher and the explanation need not go very far. Now, the rate came down, and new explanations, such as the lack of a positive registration, access to more people (no credit history) to the banking system etc.

If the hole is with the private banks in general, that Itaú has caught more? Certainly there are reasons that will hardly public. But one of the reasons is the anticipation of 2010 election dispute. Itaú was identified with the PSDB. And the association's image to the institution of the party was even clearer with the merger with the bank, which had on its board several former government FHC, and Pedro Malan, Demosthenes Madureira de Pinho, Daniel Gleizer and Eleazar de Carvalho Filho. Add to this the fact that Itaú have an owner sitting in the chair as President, the perfect image of banker to be used in a presidential election.

Raising the tone of criticism of the banks and the collection of various losses in government (fees, auction the sheet of INSS, correction of plans etc.) concern the bankers. And, though belatedly, they now seem to agree that the world has changed and we must adapt to new times. The interview given by Fábio Barbosa, president of the Brazilian Federation of Banks (Febraban), the Claudia Safatle of Value (edition of August 11, page C8) is an indication that. He cites that now, in addition to dialogue with the government and the Central Bank, it must relate to Procons, the Judiciary, the Legislative Branch. It is good to remember that very recently the banks have to make a war operation against the application of the Law of Consumer Protection. It is a change in both attitude and if it is in fact put into practice.

What is some bankers have noticed that when the trend is strong, it is better to anticipate it, instead of fighting against. A great learning credit was recorded (with discount in payroll), a product that gained weight in the hand of financial institutions for medium and small companies. Initially, some of the major banks showed resistance to the product because they could earn higher rates on other types of loans. The set grew and bancões retail had to fix the route.

A good test for the banks will register positive, a sort of historical center of paying good credit, a project that is ongoing in the Senate. In the past, more than once, executives of banks came to twist the nose for the initiative because it wanted to "open data" of their good customers to competition. The discourse has changed. With the pressure on the government "spreads" and greater reliance of banks on the outcome of their credit operations, the approval of the project now is to welcome the financial system. To get an idea of the size of the measure, the simulation shows that Serasa Experian, register with the positive, the interest rate would be lower than the present for 62% of the population policy of credit.

It is too early to say whether the change in attitude of the banks cited by Fábio Barbosa will indeed succeed. But the fact that bankers have noticed that change is needed now is a big step. And perhaps a good subject for a chat between Barbosa and Minister Dilma Rousseff, the next meeting of the Board of Petrobras (both are directors of oil company). Friends say he's banker and the minister - possible candidate for President of the Republic - get along very well. In Febraban, Barbosa has the mandate in March of next year.

Sob pressão, bancos tentam nova postura

Raquel Balarin


Valor Economico

20/08/2009



As reuniões com analistas que o Itaú Unibanco promove são tidas como exemplares. Durante todo o dia, altos executivos do banco dão explicações sobre o balanço, respondem a perguntas de analistas sobre o futuro da economia, detalham provisões e conversam com a imprensa. Ontem, entretanto, na reunião realizada em um buffet em São Paulo, um assunto indigesto dominou as sessões de perguntas dos jornalistas e os comentários à boca pequena. O que os Setubal (o presidente Roberto e o vice-presidente de relações com investidores, Alfredo) tinham a dizer sobre as críticas públicas feitas na semana passada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, aos bancos privados e a Roberto? Os Setubal responderam com silêncio e decidiram "não jogar mais lenha na fogueira", como afirmou Alfredo.

Na semana passada, ao anunciar a volta do Banco do Brasil à liderança no ranking das instituições financeiras, Mantega fez críticas ácidas. Disse que os bancos privados iriam "comer poeira" dos bancos públicos se não reduzissem os "spreads" (diferença entre o custo de captação do banco e a taxa dos empréstimos) e aumentassem o crédito. E acrescentou que "o presidente do Itaú tinha se equivocado e perdido a oportunidade de não se equivocar". O "equívoco" tinha sido uma declaração de Roberto Setubal no dia anterior, de que os "spreads" cobrados pelos bancos públicos não eram sustentáveis.

Pouca gente se lembrou, mas há um mês, no lançamento do Vale-Cultura, o Itaú já havia sofrido outra crítica direta do governo, desta vez vinda de ninguém menos que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. No evento, ele disparou, em referência ao uso da Lei Rouanet: "As pessoas veem o Itaú (Cultural) e nem sabem que aquilo não é deles. Aquilo não tem um tostão do Itaú". Constrangimento. Na plateia estava uma das herdeiras do banco, Milu Vilela. (Detalhe: o Itaú Cultural informou na ocasião que cerca de metade dos recursos investidos anualmente são próprios).

Que há algo acontecendo, não é preciso ser muito inteligente para perceber. Lula tem demonstrado irritação com os bancos privados pelo fato de os "spreads" permaneceram elevados, apesar da queda da taxa básica de juro. O "spread" é uma tecla em que ele bate desde o primeiro mandato. Em reuniões com representantes dos bancos, em mais de uma vez começava a conversa perguntando como é que um sujeito comprava uma geladeira a prazo e acabava pagando duas. Mas, lá atrás, a Selic era mais alta e a explicação não precisava ir muito longe. Agora, a taxa baixou e surgiram novas explicações, como a falta de um cadastro positivo, o acesso de mais pessoas (sem histórico de crédito) ao sistema bancário etc.

Se a bronca é com os bancos privados em geral, por que o Itaú vem apanhando mais? Certamente há razões que dificilmente virão a público. Mas um dos motivos é a antecipação disputa eleitoral de 2010. O Itaú já era identificado com o PSDB. E essa associação da imagem da instituição à do partido ficou ainda mais clara com a fusão com o Unibanco, que tinha em seus quadros vários ex-governo FHC, como Pedro Malan, Demosthenes Madureira de Pinho, Daniel Gleizer e Eleazar de Carvalho Filho. Some-se a isso o fato de que o Itaú tem um dono sentado na cadeira de presidente, a perfeita imagem de banqueiro para ser utilizada em uma eleição presidencial.

A elevação do tom das críticas aos bancos e a coleção de várias derrotas no governo (tarifas, leilão da folha do INSS, correção dos planos etc) preocupa os banqueiros. E, ainda que tardiamente, parece que eles agora concordam que o mundo mudou e que é preciso adaptar-se aos novos tempos. A entrevista dada por Fábio Barbosa, presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a Claudia Safatle, do Valor (edição de 11 de agosto, página C8), é um indício disso. Ele cita que agora, além do diálogo com o governo e o Banco Central, é preciso se relacionar com os Procons, o Judiciário, o Legislativo. É bom lembrar que há bem pouco tempo os bancos chegaram a fazer uma operação de guerra contra a aplicação da Lei de Defesa do Consumidor. É uma mudança de postura e tanto, se ela de fato for colocada em prática.

O que alguns banqueiros têm percebido é que, quando a tendência é forte, é melhor se antecipar a ela, em vez de brigar contra. Um grande aprendizado foi o crédito consignado (com desconto em folha de pagamento), um produto que ganhou peso na mão de instituições financeiras de médio e pequeno porte. No início, alguns dos grandes bancos mostraram resistência ao produto porque podiam ganhar taxas maiores em outros tipos de empréstimo. O consignado cresceu e os bancões de varejo tiveram que corrigir a rota.

Um bom teste para os bancos será o cadastro positivo, uma espécie de histórico central de crédito de bons pagadores, projeto que está em tramitação no Senado. No passado, mais de uma vez, executivos de bancos chegaram a torcer o nariz para a iniciativa porque não queriam "abrir os dados" de seus bons clientes à concorrência. O discurso mudou. Com a pressão do governo sobre os "spreads" e a maior dependência dos bancos sobre o resultado de suas operações de crédito, a aprovação do projeto agora é vista com bons olhos pelo sistema financeiro. Para se ter uma ideia da dimensão da medida, simulação da Serasa Experian mostra que, com o cadastro positivo, a taxa de juro seria menor do que a atual para 62% da população tomadora de crédito.

Ainda é cedo para dizer se a mudança da postura dos bancos citada por Fábio Barbosa vai de fato vingar. Mas o fato de os banqueiros terem percebido que é preciso mudar já é um grande passo. E, talvez, um bom tema para um bate-papo entre Barbosa e a ministra Dilma Rousseff, na próxima reunião de conselho da Petrobras (ambos são conselheiros da empresa petrolífera). Amigos do banqueiro dizem que ele e a ministra - possível candidata à Presidência da República - estão se dando muito bem. Na Febraban, o mandato de Barbosa acaba em março do ano que vem.

Raquel Balarin é editora especial em São Paulo

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

HAVELANGE: COPA DO MUNDO RENDE USD 4 BILHÕES




















Havelange afirma que a Copa do Mundo é um negócio que rende 4 bilhões de dólares sustentando 1 bilhão de pessoas.




Entrevista: Ex-presidente da Fifa diz que a indústria do futebol sustenta globalmente 1 bilhão de pessoas
Obras da Copa vão ficar para o Brasil, diz Havelange

Chico Santos, do Rio






19/08/2009






Leo Pinheiro/Valor

João Havelange: "Se pudéssemos fazer em todos os setores da atividade o que faz o futebol, o mundo não seria o mesmo"
A voz é firme e clara, assim como os passos e as respostas. "O futebol toma conta no mundo e dá de comer a praticamente 1 bilhão de pessoas. Não há indústria, não há ninguém que faça isso". Jean-Marie Faustin Goedefroid de Havelange, 93 anos completados no dia 8 de maio, ex-nadador e carioca de ascendência belga, construiu toda a sua carreira no futebol e foi protagonista de grande parte da história do esporte mais popular do mundo. João Havelange, como foi "rebatizado", sepultou definitivamente o romantismo amador da primeira metade do século passado e inseriu o esporte no mundo dos negócios.

Ainda encontrou tempo para ficar por 58 anos na direção de uma só empresa, a Viação Cometa, cargo acumulado com a presidência da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), hoje Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que exerceu de 1958 a 1974, ano em que assumiu a presidência da entidade que comanda o futebol mundial, a Fédération Internationale de Football Association (Fifa), ficando no cargo até 1998. Hoje é presidente de honra da entidade.

"Administrar é não deixar faltar recursos", resume em entrevista concedida ao Valor no elegante escritório do centro do Rio, de onde gerencia seu patrimônio. Ele conta como viabilizou a participação brasileira na Copa de 1958, a primeira conquistada pelo país, como multiplicou as receitas das copas do mundo, critica os dirigentes dos clubes brasileiros e repele mudanças nas regras do futebol evitar erros de arbitragem. "A força do futebol está no erro", sustenta. A seguir, trechos da entrevista:

Valor: Conte qual é o seu pensamento como empresário.

João Havelange: O meu pensamento é o seguinte: administrar é não deixar faltar recursos. Se o senhor tiver os recursos, a sua missão é facilitada e o senhor chega a um final feliz. Se o senhor não tiver os recursos, dificilmente atingirá os seus objetivos. Quando eu cheguei à CBD em 1958, ela não tinha praticamente nada. Tinha o futebol e 24 esportes amadores. Hoje, todos aqueles esportes saíram e a CBD transformou-se em Confederação Brasileira de Futebol, a CBF. Tínhamos diante de nós uma Copa do Mundo (Suécia) e eu não tinha um recurso, a não ser um certo crédito nos bancos pela posição que eu tinha como administrador de uma grande empresa (Viação Cometa). Com isso, eu fazia o que na época chamávamos de papagaios (promissórias) e assinava como responsável. Não é todo mundo que faz isso. Quando nós fomos para a Copa do Mundo...

Valor: Mas o senhor não foi à Suécia, foi?

Havelange: Não fui por uma razão muito simples: se eu fosse, quem iria assinar os papagaios para mandar o dinheiro? Então, foi o vice-presidente, que era o Paulo Machado de Carvalho. Eu precisava de mais alguns recursos e consegui, antes que o time chegasse à Suécia para iniciar a Copa, dois jogos na Itália, um em Milão, contra a Inter (Internazionale), e outro em Florença, contra a Fiorentina. E com esse recurso é que o time chegou lá e o Paulo, indiscutivelmente, foi excepcional, como comando, como tudo.

Valor: O JK (presidente Juscelino Kubitschek) não deu uma colaboraçãozinha?

Havelange: Aí é que eu quero chegar: eu imaginei pedir a ele para fazer uma medalha, uma espécie de moeda de ouro com tantos quilates, na Casa da Moeda. De um lado, colocar o emblema da República, e do outro, o emblema da CBD. E o presidente Juscelino deu ordem à Casa da Moeda e nós fizemos 10 mil medalhas, ou moedas. Como a chancela da Casa da Moeda garantia a quantidade de ouro que tinha, eu ia a vários bancos e entregava pacotes de mil medalhas. Como era ouro, eles me creditavam imediatamente. Assim, consegui os recursos.

Valor: O ouro tinha liquidez...

Havelange: Exatamente. Os bancos mandavam para as agências e sempre havia alguém que queria comprar. E foi dessa maneira que eu fiz a Copa de 1958. O tempo passou, tivemos mais uma Copa do Mundo, em 1962 (Chile), e fizemos a mesma coisa. Em 1966 (Inglaterra) foi diferente, enfim, chegamos a 1970 (México). Aí os recursos já eram diferentes.

Valor: O Brasil já tinha dois títulos mundiais na bagagem.

Havelange: O cartão de visitas apresentado era outro... Depois da CBD fui eleito para a Fifa. Quando lá cheguei, eu estaria mentindo se dissesse que encontrei 20 dólares em caixa. Eu levava um programa que, na insistência, não foi aceito pelo Comitê Executivo. E para executar esse projeto, já que a Fifa nada tinha, eu tive a felicidade de ter duas reuniões, uma com a Adidas e outra com a Coca-Cola Internacional. E os dois se associaram a mim nesse programa. E aí, começaram a chegar os recursos. E eu pude modificar imediatamente a maneira de administrar a Fifa. Eu quero que o senhor atente bem para isso: a primeira Copa que eu presidi, já estava indicada onde deveria ser, foi em 1978, na Argentina. Tinha 16 equipes. Elas disputaram 32 jogos em 25 dias. E a receita final, bruta, foi US$ 78 milhões. Quatro anos depois, na Espanha, a receita passou para US$ 84 milhões. Aí eu consegui do Comitê Executivo a permissão para modificar para a Copa de 1986, que seria no México, de 16 para 24 times. Com 24, nós teríamos 54 jogos e, em vez de 25 dias, jogaríamos em 30 dias. O resultado: passamos de US$ 84 milhões para US$ 500 milhões de receita. Na continuidade, fiz um novo estudo e passei de 24 para 32 seleções. A Copa de 1990, na Itália, foi ainda disputada por 24 seleções, mas nos Estados Unidos já foram 32, jogando 62 partidas em 30 dias. E, pasme, saímos de US$ 80 milhões (1978), ou de US$ 500 milhões (1986), para US$ 2,2 bilhões. Na sequência, que foi a França, em 1998, fomos a US$ 2,8 bilhões. E hoje uma Copa do Mundo rende US$ 4 bilhões. Hoje, temos patrocinadores de campo quando tem a Copa do Mundo, e eles estão presentes também nas outras competições da Fifa. São 15 patrocinadores. E o pagamento dos que estão no campo é de US$ 75 milhões cada um. Tem a televisão, que dá mais a US$ 2,2 bilhões. E temos de 1,4 milhão a 1,5 milhão de assistentes, que correspondem a quase US$ 1 bilhão de receita. Então, uma Copa do Mundo tem hoje uma receita de US$ 4,2 bilhões.

Valor: É um negócio poderoso...

Havelange: Exato. Então, o senhor me permita a falta de modéstia, mas foi de um trabalho, de um estudo que fizemos quando chegamos. Ninguém havia pensado nisso e ninguém havia feito. A gente, na empresa, procura dar o melhor, mas também ter o melhor, e o melhor é a receita. Este mesmo princípio eu apliquei na Fifa que hoje se tornou um dos grandes poderes do mundo.

Valor: O seu pai tinha negócios na área de armamentos, mas o senhor foi trabalhar em uma empresa de ônibus...

Havelange: Eu me formei em direito com 20 anos, em 1930, e perdi meu pai em 1934. Após estagiar em escritórios de advocacia, fui aprender a trabalhar. Pude entrar na Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, que ainda existe hoje (unidade de aços longos da ArcelorMittal). Lá eu aprendi a receber clientes no balcão, aprendi a catalogar, a escrever à máquina, aprendi a fazer correspondência, aprendi a visitar clientes e, depois de quatro anos, pedi demissão porque queria uma outra situação. Com o passar do tempo, fui convidado pelos proprietários da Cometa para ir para a empresa. Isso foi em 1940 e eu fui como advogado trabalhista. Fiquei dois anos nessa posição. Depois, fui a diretor, ficando dois anos. E agora vou dizer uma coisa que vai lhe surpreender, porque isso já não existe: fiquei 58 anos como presidente, 62 anos na mesma empresa.

Valor: Então o senhor saiu de lá em 2002?

Havelange: Exatamente. E foi aí que aprendi o que era administração. Eu não sou motorista, eu não sou mecânico, eu não troco pneu, eu não mexo em chassi... Mas havendo recursos para se ter uma boa administração, a gente procura ter os melhores.

Valor: O senhor inovou, contratou psicólogos para cuidar dos motoristas, preocupado com a segurança...

Havelange: Os motoristas tinham que fazer um exame como faz o aviador.

Valor: E qual foi a marca da sua gestão?

Havelange: Para o senhor ter uma ideia, só um detalhe: o ônibus tem dois pneus na roda de trás. Quando o pneu de dentro furava, o motorista tinha de tirar a roda de fora, tirar o pneu furado, ir buscar no ônibus o novo pneu, colocar, colocar o de fora e guardar o furado. Na Cometa tudo era feito em 17 minutos. Eu chamo isso administração. É um detalhe que parece não ter importância, mas tem. Se o cara fica parado duas horas para fazer aquela tarefa não é bom. Incomoda o passageiro, ele reclama. Foi com esse espírito, esse pensamento e essa vontade que eu fui para a Fifa quando eleito presidente. E o futebol hoje é um dos poderes do mundo e eu vou dizer porquê: 250 milhões. Se o senhor multiplicar isso por quatro dentro de uma família, dá 1 bilhão, não é? Então, o futebol toma conta no mundo e dá de comer a praticamente 1 bilhão de pessoas. Não há indústria, não há ninguém que faça isso. Hoje, vejo que o futebol é um poder, é desejado, é aplaudido e é criticado, naturalmente, como tudo que a gente faz na vida. Mas é um exemplo a ser seguido.

Valor: Como o senhor conseguiu conciliar a presidência da Cometa com CBD e, depois, com a Fifa?

Havelange: Primeiro, eu tinha o respeito de todo o mundo. Dava para fazer. Se tivesse que vir, eu vinha (ao Brasil), e sempre estava bem assessorado para continuar o trabalho, uma diretoria de alto gabarito e de qualidade.

Valor: O futebol tornou-se um dos maiores negócios do mundo, mas no Brasil os clubes empobreceram. Por quê?

Havelange: O senhor disse bem, os clubes brasileiros empobreceram, os europeus, não. Porque nós temos péssimas administrações. O sujeito hoje é dirigente, é diretor e ainda é torcedor. Não é administrador, e este é o grande problema. E depois, a lei federal deveria mudar. O senhor viu agora o que aconteceu no mundo? Um baque tremendo! Quantas pessoas altamente qualificadas foram presas porque tinham responsabilidades e falharam? No dia em que isso acontecer no futebol - o sujeito é presidente, mas responde com os seus bens, pode sofrer um processo e ir para cadeia-, o senhor vai ver que tudo vai mudar.

Valor: A chamada Lei Pelé (nº 9.615/98, que acabou com o passe, o vínculo desportivo do jogador ao clube) contribuiu para os problemas dos clubes no Brasil?

Havelange: Para mim contribuiu e muito. Quando ele fez a lei eu o chamei e disse "se eu fosse você não apresentaria porque você vai trazer um grande prejuízo para todos". Antigamente, quando o passe do jogador era vendido, o clube dava a ele 15% do valor da venda. E quem fazia o contrato com o novo clube era o jogador, não era nenhum indivíduo. Hoje em dia está tudo nas mãos de pessoas. Há pouco tempo eu li que um jogador ia para não sei para onde. Havia três empresários, cada um tinha um terço do passe dele. Antes se falava em escravatura. Isto é que é uma escravatura, o senhor me perdoe.

Valor: É propriedade de pessoas...

Havelange: Exatamente. Hoje o diretor diz que o passe é dele, não é do Fluminense (por exemplo). O passe do jogador deve ser do clube, é propriedade do clube, não pode ser seu e nem meu. O clube é que dá o emblema, dá a camisa, dá a coloração. Se não superarmos isso, vamos continuar descendo.

Valor: E a realização da Copa na África (2010)?

Havelange: Antes de deixar a Fifa percebemos que nunca na história nada se passou na África, nenhum evento, nada. Então, procuramos o presidente (Joseph) Blatter (substituto de Havelange na Fifa) e deixamos pronto para que em 2010 a Copa do Mundo fosse para a África. O senhor veja o que isto representa! Eles estão fazendo estádios, estão se organizando, estão se disciplinando... A Copa das Confederações foi feita e correu tudo perfeito. Se nós pudéssemos fazer em todos os setores da atividade humana o que faz o futebol, o mundo não seria o mesmo.

Valor: Qual a importância econômica e social para o Brasil da realização da Copa de 2014?

Havelange: Já que estou falando com um jornal econômico, vou dar um dado: não sei se o senhor sabe que a França recebia por ano 60 milhões de turistas. É o turista que chamamos classe A e B, que gasta US$ 1.000 por viagem. Então, o turismo fazia entrar na França US$ 60 bilhões. Tivemos então a Copa do Mundo na França em 1998. Depois dela essa média saltou para 70 milhões de turistas, ou seja, a Copa deu para a França US$ 10 bilhões por ano. É assim que tem que ser analisado. "Mas eu vou gastar dinheiro no estádio"! Ele fica, não vai ser posto no chão. "Vou gastar no aeroporto"! Ele também fica, para o bem de todos.

Valor: Muitos criticam, tanto na CBF quanto na Fifa, o fato de não haver um limite para as reeleições. Como o senhor vê isso?

Havelange: Não vamos misturar política com outras coisas. Todo mundo quer sentar no futebol porque sai o nome no jornal. Mas tem que saber trabalhar. O Blatter chega ao escritório todo dia às 8 horas e sai às 18. Eu, quando estava lá, também. Durante os 24 anos que fiquei, foi sempre por eleição. Na primeira, eu tive uma disputa com outro candidato. Nas outras (eleições), foi por aclamação. É porque gostavam!

Valor: Como o senhor vê as reclamações de que as regras do futebol evoluem muito lentamente, não acompanham a tecnologia?

Havelange: O senhor vai estranhar a minha resposta. A força do futebol é o erro. Eu vou dizer porquê. Copa do Mundo de 1986, no México. Eram 24 seleções, 54 jogos. Só se fala de um jogo, Argentina e Inglaterra, porque Maradona fez um gol com a mão. Copa de 1966 na Inglaterra: até hoje se discute o terceiro gol dos ingleses contra os alemães na final (há sérias dúvidas sobre se a bola realmente entrou). O vôlei, quando eu joguei, o mais alto tinha 1m80, hoje tem 2m10. Então, a regra tinha que mudar. No futebol eu queria que uma regra mudasse, era aumentar a baliza para os lados e para cima. O Aimoré (Moreira, ex-goleiro e ex-treinador) devia ter 1,75 m. Hoje, o Dida quanto tem? Dois metros e pouco. Então, eu havia imaginado aumentar o gol em uma bola para cima e meia bola para cada lado. Fomos verificar. O senhor veja que pensar é uma coisa e executar é outra. Se isso acontecesse o senhor teria que inutilizar grande parte dos campos da Europa porque não havia como recuar. A maioria dos estádios não tinha pista em volta, então não dava para mexer.

Valor: E a ideia de colocar um chip na bola para saber onde ela vai quicar?

Havelange: Eu sou contra. Acho que o árbitro está ali para isso. O futebol mudou, mas sua força continua sendo o erro. O senhor vai para o café e discute, quer quase agredir porque isso e aquilo. O dia que o senhor tirar isto, é feito ir ao Teatro Municipal de casaca, bater palmas e voltar para casa.

Valor: Qual foi a maior alegria que o futebol deu para o senhor?

Havelange: Naturalmente, a Copa de 1958. O Brasil nunca tinha ganho. Eu cheguei à CBD... naquela época diziam que eu era nadador e não entendia nada de futebol, é um direito de cada um, mas com o método que eu levei, nós fomos campeões. Em 1966 (o Brasil perdeu o tricampeonato) me criticaram muito, mas eu vou lhe lembrar: presidente da Fifa, um inglês (sir Stanley Rous) dizia que o futebol nasceu na Inglaterra e que a Inglaterra era que sabia de futebol. Mas nunca tinha sido campeã. Copa do Mundo na Inglaterra: O único time que não saiu de Londres foi a seleção inglesa. Quando o Brasil foi jogar os três primeiros jogos, contra a Bulgária, contra a Hungria e contra Portugal, dos três árbitros e seis bandeirinhas, sete eram ingleses e dois alemães. Acabaram com nosso o time (violência). E quem foi campeão? A Inglaterra, com a Alemanha de vice. Fui criticado, fui maltratado, quase me agrediram, mas o que ninguém quer é analisar, porque o futebol é uma paixão e o senhor tem que respeitar essa paixão, mesmo que ela seja contra si. Mas não é porque essa paixão lhe vem contra que o senhor tem que mudar a regra.

Valor: Como o senhor vê a economia brasileira e o governo do presidente Lula?

Havelange: Não é porque o presidente está no exercício, mas nós temos que reconhecer que em um momento de crise mundial um dos países que menos sofreram foi o Brasil. Dentro do problema houve um equilíbrio. Nós praticamente não sentimos as ondas de 50 metros. Ficamos só nas marolas. E eu acho que isto é um exemplo a seguir. Não é que ele deva se perpetuar, mas, indiscutivelmente, é um exemplo a ser seguido.